Dados do Trabalho


Título

UM PROBLEMA ENRAIZADO NA SAUDE PUBLICA BRASILEIRA: FATORES DE RISCO PARA A INTERRUPÇAO DO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE

Fundamentação teórica/Introdução

A Organização Mundial da Saúde (OMS) teve como objetivo reduzir a incidência de tuberculose (TB) de 2015 a 2030. No entanto, a taxa de redução em 2020 foi de apenas 9,2%. Neste estudo, avaliamos as características demográficas, socioeconômicas, clínicas e a interrupção do tratamento de pacientes com notificações de TB em dois hospitais universitários do sul do Brasil.

Objetivos

Este artigo tem como foco avaliar os aspectos epidemiológicos, sociais e ambientais que podem influenciar na adesão ao tratamento da tuberculose - visando que a compreensão dos dados obtidos possa conduzir ao desenvolvimento de políticas públicas eficazes.

Delineamento e Métodos

Este é um estudo retrospectivo de coorte realizado em dois hospitais universitários brasileiros de 2014 a 2021. Os critérios de inclusão foram internação nas enfermarias/unidade de terapia intensiva e notificações de TB. Os dados foram coletados a partir de prontuários médicos e entrevistas por telefone complementaram a avaliação do status econômico, nível de educação, abuso de substâncias e histórico de interrupção do tratamento.

Resultados

Foram incluídos neste estudo 234 pacientes, dos quais 108 (77%) eram homens, com idade média de 43 anos (intervalo interquartil [IIQ]: 30-54). A TB pulmonar ocorreu em 73% (n=171), enquanto a TB pleural, meningoencefálica e ganglionar ocorreram em 12,8% (n=20), 8% (n=19) e 4% (n=10), respectivamente (Tabela 1). Co-infecção pelo HIV ocorreu em 4,7% (n=11). Renda mensal de <1 salário mínimo foi relatada por 46% (n=61) dos pacientes, abuso de álcool por 24% (n=45) e uso de drogas por 9% (n=12). A interrupção do tratamento ocorreu em 38% (n=510) dos casos. Na análise univariada, a interrupção do tratamento foi relacionada ao abuso de álcool (odds ratio [OR] 10,8, intervalo de confiança [IC] de 95% 4,5-25,5, P<0,001), renda mensal de <1 salário mínimo (OR 5,0, IC 95% 1,5-16,6, P=0,008), uso de drogas (OR 5,5, IC 95% 1,4-21,6, P=0,013), transtorno mental (OR 2,8, IC 95% 1,2-6,4, P=0,014) e TB pulmonar (OR 0,41, IC 95% 0,19-0,89, P=0,025). Na análise multivariada, o abuso de álcool (OR 9,73, IC 95% 3,9-24,0, P<0,0001), renda mensal de <1 salário mínimo (OR 2,4, IC 95% 1,03-5,88, P<0,042) e TB pulmonar (OR 0,34, IC 95% 0,13-0,87, P=0,025) permaneceram independentes.

Conclusões/Considerações Finais

A interrupção do tratamento da TB foi elevada e relacionada ao abuso de álcool, renda mensal e local da infecção. As metas da OMS podem não ter sido alcançadas, enquanto variáveis socioeconômicas e culturais não foram abordadas corretamente.

Palavras Chave

tuberculose; interrupção; tratamento;

Arquivos

Área

Clínica Médica

Autores

CAMILA BASTOS GRECHONIAK, LAURA LEAL, NATHAN DZIVENKA VIEIRA, FELIPE FRANCISCO TUON, JOÃO PAULO TELLES